Cada ser humano é um universo em miniatura. Apesar de
semelhantes, suas leis internas não biológicas são diferentes. Quando entram em
convívio há uma verdadeira miscelânea de opiniões e decisões acerca dos mais
variados temas da vida e geralmente se atritam. Seria o amor assassinado,
vítima da inconsistência desses universos? É difícil entender o processo.
É difícil achar uma combinação de fatores que possa tornar
viável a existência do amor entre duas pessoas quando a prioridade é a
manutenção da intocada estrutura universal da mente. Amar pressupõe mudança.
Amar pressupõe renúncia. Amar pressupõe abnegação e negação de prazeres
individuais. Amar pressupõe a não suposição. Amar é dividir o dia com alguém. Amar
é ausência de julgamento e compreensão da ação.
Pode-se viver uma história feliz em um dia e uma história
triste em décadas. É a metamorfose do amor. Ele é assim; calmo e irrequieto,
paixão e raiva, amigável e vingativo, abnegado e individualista. Geralmente o
amor é cego, guiando-se pelo tato e pela intuição. Às vezes a corrente do vento
o ajuda, mas geralmente a direção é incerta.
O amor é o homem em essência, acorrentado em seu próprio
mundo de miséria e felicidade, de ódio e compaixão, de luta e paz.
Eu tenho andado por essas terras há duas décadas. É um tempo
considerável para a ponderação. Qual a fórmula da juventude do amor? Talvez
seja a mesma da juventude da vida. Quando dois universos possuem leis
excludentes, o que sobra para uma leitura razoável sobre tudo o que o tempo
trouxe e levou embora? O corpo anseia, a mente arrazoa. O corpo consome, a
mente degusta e avalia. O corpo arde em paixão físico-química, a mente alimenta
a inércia da razão.
Qual é o momento para que os universos possam se separar
para continuarem expandindo-se? Deus passou por esse dilema até o momento que
em que decidiu que já era hora de se expandir. A minha expansão está eclodindo.
A casca do ovo já se rompeu. Preciso encarar os fatos. Plantei árvores, tive
filhos, escrevi livros, contemplei a natureza, descobri a consciência da
existência, descobri a grandeza de Deus e participo do palco da vida. O que me
resta nessa fase da vida? Assim como o universo está em expansão, devo seguir
com a minha, na ínfima proporção, porém, não menos importante.
Já é chegada a hora de adentrar aos portais da paz. Já é
hora de aplicar o que aprendemos com o autoconhecimento. É hora de mudar o leme
da embarcação, pois para qualquer direção em que o barco vá, sempre achará
terra e é na terra que nasce a planta que dá a flor que ao ser humano encanta e
dá sentido à sua racionalidade e espiritualidade e, paradoxalmente, ao
famigerado amor.