quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Em transformação


Cada ser humano é um universo em miniatura. Apesar de semelhantes, suas leis internas não biológicas são diferentes. Quando entram em convívio há uma verdadeira miscelânea de opiniões e decisões acerca dos mais variados temas da vida e geralmente se atritam. Seria o amor assassinado, vítima da inconsistência desses universos? É difícil entender o processo.

É difícil achar uma combinação de fatores que possa tornar viável a existência do amor entre duas pessoas quando a prioridade é a manutenção da intocada estrutura universal da mente. Amar pressupõe mudança. Amar pressupõe renúncia. Amar pressupõe abnegação e negação de prazeres individuais. Amar pressupõe a não suposição. Amar é dividir o dia com alguém. Amar é ausência de julgamento e compreensão da ação.

Pode-se viver uma história feliz em um dia e uma história triste em décadas. É a metamorfose do amor. Ele é assim; calmo e irrequieto, paixão e raiva, amigável e vingativo, abnegado e individualista. Geralmente o amor é cego, guiando-se pelo tato e pela intuição. Às vezes a corrente do vento o ajuda, mas geralmente a direção é incerta.

O amor é o homem em essência, acorrentado em seu próprio mundo de miséria e felicidade, de ódio e compaixão, de luta e paz.
Eu tenho andado por essas terras há duas décadas. É um tempo considerável para a ponderação. Qual a fórmula da juventude do amor? Talvez seja a mesma da juventude da vida. Quando dois universos possuem leis excludentes, o que sobra para uma leitura razoável sobre tudo o que o tempo trouxe e levou embora? O corpo anseia, a mente arrazoa. O corpo consome, a mente degusta e avalia. O corpo arde em paixão físico-química, a mente alimenta a inércia da razão.

Qual é o momento para que os universos possam se separar para continuarem expandindo-se? Deus passou por esse dilema até o momento que em que decidiu que já era hora de se expandir. A minha expansão está eclodindo. A casca do ovo já se rompeu. Preciso encarar os fatos. Plantei árvores, tive filhos, escrevi livros, contemplei a natureza, descobri a consciência da existência, descobri a grandeza de Deus e participo do palco da vida. O que me resta nessa fase da vida? Assim como o universo está em expansão, devo seguir com a minha, na ínfima proporção, porém, não menos importante.

Já é chegada a hora de adentrar aos portais da paz. Já é hora de aplicar o que aprendemos com o autoconhecimento. É hora de mudar o leme da embarcação, pois para qualquer direção em que o barco vá, sempre achará terra e é na terra que nasce a planta que dá a flor que ao ser humano encanta e dá sentido à sua racionalidade e espiritualidade e, paradoxalmente, ao famigerado amor.