terça-feira, 25 de setembro de 2018

Minha luz obscura

A luz que em ti resplandece
Em minh'alma aquieta e aquece
Meu coração que não mais entristece
E meu corpo, inerte, estremece

A profundidade do oceano
É como a mulher e seu plano
Entre o sagrado e o profano
Repousa minha paz sem engano

Há muito que o amor foi corrompido
Pelo homem foi torturado e traído
Durante o nictêmero eu o tenho sentido
Mesmo nas masmorras de um coração falido

Ontem eu não existia
Meu corpo jazia em agonia
Quando o cosmos enfim trazia
Aquela que inevitavelmente me amaria

Pode-se viver mais de um amor
Cada um com sua luz e sua dor
Ainda assim, cada qual com sua flor
Unicamente linda, seja qual for sua cor

Meu corpo é átomo do céu
O mesmo do qual é feito o mel
Que é apenas defeito no fel
Eis a prova em Caim e Abel

Meu amigo e meu algoz é o tempo
Traduz quem sou em pensamento
Traz a mim aquela que me é alento
Em meio à vida em contratempo

Tu és meu contraponto
Música dissonante em confronto
Com tempestade e desencontro
Todavia, o compasso sempre está pronto

No âmago do meu ser
O velho homem está a perecer
Nessa terra ele há de renascer
Novo como um belo amanhecer

domingo, 16 de setembro de 2018

Quando se deve dizer eu te amo

A capacidade de o ser humano expandir sua intelectualidade é sobremodo assustadora. Entratanto, quando se trata de expansão de sua espiritualidade, essa mesma capacidade é diametralmente oposta.

Intelectualidade está relacionada à quantidade de informação adquirida ao longo da vida. Já a evolução do espírito está relacionada com uma busca, uma busca que começa no mundo externo e termina na menor e última partícula do corpo humano. Quando termina, então chegou a hora de conhecer o desconhecido. O nada absoluto do qual Deus tudo fez.

Essas breves e confusas palavras que teci até aqui servem para deixar claro que amor não se mede em conhecimento, amor se busca e, a quem busca, ele aparece em alguns momentos, sendo sua aparição muito rara e, até certo ponto, aleatória.

É preciso deixar claro que o amor possue muitas vertentes e muitas faces e que estou falando espeficicamente do amor que algumas vezes visita a vida de um homem e de uma mulher e os atrai, os encanta como um ponto luminoso equidistante entre dois corpos celestes que ainda não têm luz própria.

Não é possível identificar como ele começa. Não é possível saber quando está na hora de se aproximar. Não é possível saber quando as bocas devem se tocar. Não é possível saber quando serão uma só carne. Não é possível saber quando ele se revelará, e não é possível saber quanto tempo ele habitará nos eleitos corações.

Destarte, é como se o homem e a mulher ficassem sob total controle dessa que é a maior força do universo. Diante disso, o que significa dizer para o outro, "eu te amo"?

O universo semântico que se depreende da sentença "eu te amo" pertence à física aplicável a um sistema fechado, isto é, somente nesse sistema as leis conhecidas funcionam dentro dos parâmetros predefinidos. Assim, torna-se válida a frase "eu te amo", porém, não carrega nem a menor parte de toda a magnificência cósmica à que está submetida a frase.

É preciso entender que, quando se descobre o amor, esse do sistema fechado, está a descobrí-lo no âmbito geral da sociedade. Agora, quando um homem e uma mulher estão na sua jornada espititual do autoconhecimento e, por uma série de fatores inexplicáveis, acabam por cruzarem suas jornadas, esse amor que visita essa intersecção não pode ser esquadrinhado nos paradigmas da sociedade. Esse amor é único, indecifrável como o enigma da vida, mas simultaneamente claro e translúcido como a água que verte da rocha.

É em meio a esse amontoado de palavras prolixas e à margem da fantasia que subsiste esse sentimento em mim. Proferir a frase "eu te amo" certamente não fará sentido nem para mim, nem para ela. Seria como um passo atrás no processo criativo do amor. Ele nos escolhe e não nós a ele. Portanto, somente os céus poderão proclamar esse amor genuíno, e tão somente a quem tiver sede dele.

Assim, eis-me aqui
Pronto para ti
Da vida pretérita parti
Quando meu caminho descobri

O amor me encanta
Ele faz a dança
Que alimenta a esperança
Da humanidade no coração da criança

Não há razão para o que tenho feito
A resposta está em meio peito
Desse amor eu tenho direito
Antes do repouso eterno no meu leito

Se minha mente diz não
Meus olhos dizem coração
O simples toque de minha mão
Quebra o controle da razão

Corra o mais distante que puder
E lá no lugar onde estiver
Estarei a esperar aquela que me quer
Correspondência biunívoca da minha vida: mulher

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Resposta


Quando fito seu rosto
Surge em mim tamanho desafio
Onde o prudente é deposto
E a realidade está por um fio

Ato Proibido por excelência
Requer que a prudência
Retorne com urgência
Para a manutenção de minha penitência

Em minha letargia
Reside tamanha agonia
Onde no fundo já sabia
Que um dia te encontraria

Até aqui cheguei
E até aqui parei
Do outro lado só estarei
Porque no fundo desejei

Um dia terei a compreensão
De um mundo sem razão
Em que pese a dor em meu coração
De ter hesitado cantar a mais bela canção

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Em transformação


Cada ser humano é um universo em miniatura. Apesar de semelhantes, suas leis internas não biológicas são diferentes. Quando entram em convívio há uma verdadeira miscelânea de opiniões e decisões acerca dos mais variados temas da vida e geralmente se atritam. Seria o amor assassinado, vítima da inconsistência desses universos? É difícil entender o processo.

É difícil achar uma combinação de fatores que possa tornar viável a existência do amor entre duas pessoas quando a prioridade é a manutenção da intocada estrutura universal da mente. Amar pressupõe mudança. Amar pressupõe renúncia. Amar pressupõe abnegação e negação de prazeres individuais. Amar pressupõe a não suposição. Amar é dividir o dia com alguém. Amar é ausência de julgamento e compreensão da ação.

Pode-se viver uma história feliz em um dia e uma história triste em décadas. É a metamorfose do amor. Ele é assim; calmo e irrequieto, paixão e raiva, amigável e vingativo, abnegado e individualista. Geralmente o amor é cego, guiando-se pelo tato e pela intuição. Às vezes a corrente do vento o ajuda, mas geralmente a direção é incerta.

O amor é o homem em essência, acorrentado em seu próprio mundo de miséria e felicidade, de ódio e compaixão, de luta e paz.
Eu tenho andado por essas terras há duas décadas. É um tempo considerável para a ponderação. Qual a fórmula da juventude do amor? Talvez seja a mesma da juventude da vida. Quando dois universos possuem leis excludentes, o que sobra para uma leitura razoável sobre tudo o que o tempo trouxe e levou embora? O corpo anseia, a mente arrazoa. O corpo consome, a mente degusta e avalia. O corpo arde em paixão físico-química, a mente alimenta a inércia da razão.

Qual é o momento para que os universos possam se separar para continuarem expandindo-se? Deus passou por esse dilema até o momento que em que decidiu que já era hora de se expandir. A minha expansão está eclodindo. A casca do ovo já se rompeu. Preciso encarar os fatos. Plantei árvores, tive filhos, escrevi livros, contemplei a natureza, descobri a consciência da existência, descobri a grandeza de Deus e participo do palco da vida. O que me resta nessa fase da vida? Assim como o universo está em expansão, devo seguir com a minha, na ínfima proporção, porém, não menos importante.

Já é chegada a hora de adentrar aos portais da paz. Já é hora de aplicar o que aprendemos com o autoconhecimento. É hora de mudar o leme da embarcação, pois para qualquer direção em que o barco vá, sempre achará terra e é na terra que nasce a planta que dá a flor que ao ser humano encanta e dá sentido à sua racionalidade e espiritualidade e, paradoxalmente, ao famigerado amor.