terça-feira, 2 de outubro de 2012

Dia a Dia

Ao despontar de um novo dia
Surge em mim aquela velha mania
Da rotina que não tem alegria
Pois reside em mim recorrente agonia


A passos largos adentro ao futuro
Que se apresenta maduro e obscuro
Revelando em mim o ser inseguro
Que na decisão mostra-se imaturo


O beijo é meu auto-esforço
Que desabafa e me dá conforto
No bem querer alheio que é sinuoso
E me deixa um tanto desejoso


Assim prossigo a jornada
Peregrino nos campos do nada
E concentro na mão atada
A força de uma vida enlatada

À procura do amor

Desde o dia em que nasci
Em muitos lugares estive a procurar
E foi justamente em ti
Que minh’alma assim foi descansar


Não falo de paixão
Nem daquele vazio calor
Disso realmente não
Falo é de amor


É importante que saibas que na vida
Não existe regra para o acaso
Pois nessa caminhada de ida
Vidas se cruzam como ramos num vaso


É assim que nasce o amor
De maneira misteriosa, incompreensível
E seu magnífico autor
Está sempre conosco, indivisível


É único, é luz a iluminar
É pequeno, é grande
Está sempre a esperar
Para que a gente não pare, ande!

Da dor ao amor

A experiência da dor
Revela o ator
Que interpreta com ardor
Uma vida que reluz amor

Dividido está
Entre o agora e o que fará
Mas o que importará
É se ele nunca falhará

Pois é relevante
Ainda que por um instante
Que perceba que seu amante
É o próprio semelhante

E a vida é isto
Essa história que tenho visto
De pessoas ansiosas pelo aprisco
Que afinal reside em Cristo

O Decurso

Lado do bem, lado do mal
Faço a outrem, miséria total
E de todo, afinal, parece sal
Que amarga e preserva o canal
Do rio que corre em um lamaçal
E encontra, enfim, o oceano cabal
Que dilui e homogeneíza a vida total
Tornando à origem atômica divinal
Tal qual Adão e todos nós afinal
Oh vida de prazer carnal
Que me traz a desolação infernal,
Quando aprenderás a tonal
Da música celeste angelical?

Agora...

Às vezes penso sobre isso
Sobre o que faço da minha vida
O que aprender disso
Nessa caminhada só de ida


O amor é tudo que preciso
É aquilo que liberta
Está bem destacado no inciso
Da lei que em meu peito aperta


Somos humanos, não máquina
Eu e você sabemos que é assim
Mas busco sempre uma tática
Para ignorar a dor da mentira em mim


Então meu cerne dói
Minha vida grita por alegria
O corpo lá dentro se corrói
E a vida prossegue com muita euforia

Penso

Penso que um dia te conheci
Penso que um dia te falei
Penso que um dia percebi
Penso que sempre te amei


Penso em tua boca
Penso em teu corpo
Penso que não há outra
Penso no ontem que está morto


Penso na vida
Penso nos filhos
Penso à frente, na ida
Penso na rua sem trilhos


Penso na morte
Penso na sorte
Penso como és forte, ó morte
Penso que estou acima de tua sorte


Penso no mundo
Penso no divino
Penso bem fundo
Penso na melodia do hino


Penso no Criador do Universo
Penso em fazer um verso
Penso em terminar o resto
Penso que a vida é um grande manifesto


Penso mulher
Penso amor
Penso em nenhuma sequer
Penso somente na que me quer

Para ela

Assim como o mar vem e vai
Às vezes a vida nos trai
Quando vem, nos faz bem
Quando vai, tudo se retrai

Em meio à dor
Sinto teu clamor
À margem da loucura
Teu rosto é doçura

E quando a vida parece negar
É chegada a hora de avançar
Para quando a velhice chegar
O lamento não tomar lugar de te amar

Mulher

Luz que ilumina minha estrada
Que indica meu caminho
Que se mostra um tanto ousada
Mas que sempre dá carinho


Mel que adoça minha boca
Que amarga minha garganta
Que me faz rir a toa
Que a mim sempre encanta


Amor da minha vida
Que meu coração vivifica
Em que minh’alma floresce
E meu corpo entorpece


Mulher da minha vida
Eis meu ponto de partida
Sejas sempre guarida
Quando o medo tocar-me a ferida

Por que existo?

Isso fica martelando em minha cabeça. Penso no sentido da minha existência e insisto na ideia de que existo para servir. O desejo de servir é algo que transcende a racionalidade e só pode vir de fora do cerne, de fora da alçada do ego humano e de como entendemos o complexo mecanismo da inteligência. Logo, por subsistir no altruísmo, é natural que esse desejo aponte para algo que é sobremodo melhor que eu, mais completo e bom, pois não tem em si mesmo a idolatria do eu e sim do nós, o qual nos foi transmitido de coração a coração.

Assim, a vida - que é matéria mais o espírito - quando se doa, torna-se completa e entra em total harmonia com aquilo que é melhor do que eu, apontando à plena existência do estado real de felicidade, mediante o exercício das práticas de abnegação existencial, as quais eu conheço como amor.

A Flor

À árvore o machado do lenhador
Impõe o certeiro golpe da dor
Que retira a vida com ardor
Cuja flor tomba com furor


Tomada do chão sem perdão
Tem suas pétalas envoltas na razão
Da mão que as guia na escuridão
Que trilha o homem com insana mansidão


Tudo isso para dizer à amada
Por meio da flor desolada
Que ele a ama e mais nada
Sem perceber como a mulher quer ser tratada


Então a flor da mão ela pega
Feliz e surpresa a ele alega
Que à gama de sentimentos agrega
A inevitável escolha do homem que a leva

A Compreensão do Amor

O exercício do amor
Implica transitoriedade da dor
Sem que isso seja a favor
De uma vida com louvor.
Assim já dizia o ator
Da peça que interpreta com fulgor
Em meio ao clamor
Daquela que diz: se você for,
Não se esqueça de me pôr
No lugar daquela flor.
Não se preocupe amor,
Da terra sou agricultor
Das sementes que germinam no calor
Mas que, sem água, são vapor
Que sobem ao céu sem cor
E precipitam novamente com furor
Para regar a vida daquele ator
Que outrora fora doutor
E agora, não mais que dor,
Descobre que o impor
Não condiz com o amor.
E na melodia do cantor
Choramos o indolor...
É disso que sou portador?
Dessa doença com ar assustador,
Ou dessa dádiva do Criador?
Eis a pergunta do questionador.

Ao Criador

Por meio do seu dedo
Surge a terra sem segredo
Quando então percebo
Que a vida acontece sem medo


Na linha do horizonte
Avistam-se mares e montes
Que à vista da face é fonte
De amor e paz aos montes


E eu aqui a pensar
Se devo esse Criador aceitar
Para quando a velhice chegar
Eu não deixe de amar


Pois o amor, assim como a dor,
Arde no peito, com muito calor
Mas, contrariamente à dor, releva o ator
Que reside em mim com muito amor

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Discorrendo sobre a vida

Encontrar sentido na vida é algo que depende do modo como a vemos. Eu posso simplesmente entendê-la como produto da realidade pontual, cuja relação espaço-tempo determina sua delimitação no próprio tempo de sua existência na esfera terrestre e configura sua ação na integração com o meio. 

Mas também posso vê-la de forma direta, simplória e verdadeira. Vida é energia provida de propósito. Contudo, sua manifestação é demasiadamente complexa. Na verdade, o que realmente importará quando ela findar é se eu a fiz reproduzir. Se eu a deixei sem me lamentar pelo que não fiz tendo a chance de fazê-lo, isto é, se realmente encontrei o sentido dessa vida em mim e eu nela. E o segredo do sentido da vida está em compreender o exato minuto em que ela nos fala: lembre-se de onde veio e quem é você. 

Eu sei quem sou. Sou produto da vida inesgotável que há em Cristo. E Ele me diz que não devo pensar no amanhã, pois na verdade ele não chegará, não existe. Não consigo evitar que meu cabelo caia ou embranqueça, como diz o texto sagrado, mas tento, de todas as formas, dizer para a vida como ela deve se comportar amanhã. Eu já devia saber disso. Aliás, eu sempre soube, mas sempre finjo que não é assim.

Um olhar na internet


Palavras soltas num mundo binário
Tentam tocar corações no imaginário
É como ver peixes num aquário
Assim como aves num aviário

Na frente da tela iluminada
Pessoas em meio ao nada
Escondem-se na madrugada
E ao coração imputam-lhe a punhalada

Almejam o beijo real
Aquele que é antídoto natural
Contra os ditames em tela que fazem mal
Contra esse mundo desnatural

E a vida prossegue assim
Eu querendo saber de ti
Tu querendo saber de mim
E o mundo querendo saber da coisa em si

Não compreendeu busque na internet
Onde pra tudo existe resposta
Pois desse mundo é maquete
Tal como a simetria da matriz transposta

E então você pode se decepcionar
Ao perceber que pela vida real esteve a esperar
E que agora tudo que quer é refrear
Para continuar onde está e não ter de enfrentar

Quero sossego, quero paz
Quero a vida que não se desfaz
Quero dedos a acariciar
Quero-os não mais a teclar

Espero por um dia que há muito me pertencia
Tal como aquele da velha mania
Do menino que às seis à padaria ia
E, que avistado, sorria

Espero realmente por um dia de alegria
Não por confusa tecnologia
Pois a essa obscura euforia
Prefiro azul e verde em real harmonia

Vaidade

Essa vaidade mata e faz viver
Mas não alimenta meu ser
Só o corpo, alheio à mente
A qual não sente e mente

Para que não se invente ser diferente
E assim não intente contra a mente
A violência do amor latente
Que todos queremos, inevitavelmente

Essa vaidade que invade a cidade
Que abriga gente de toda idade
Aos mais novos se faz beldade
Ao que ao velho homem é só maldade

Dessa vaidade bebo até o fundo
Em que pese a dor que traz ao mundo
Não adianta fingir, esquecer
O que dela procede só faz entorpecer